quinta-feira, 27 de outubro de 2011

PINTAR AS PALAVRAS


PINTAR AS PALAVRAS

O dia escoa devagar em tua imensidão
Recolhes-te
As areias da praia nuas de ti choram
Água cristalina
Lágrimas tuas encontram-te no leito
Onde repousas
A saudade exasperada, toma corpo
Nervoso
O peixe encurralado nada em círculos
Em silêncio
Permanecem as pedras sem arestas
Seixos
Arredondados pelo teu vai e vem
Continuo
Em silêncio espero pintar a saudade
De branco
Teu lençol onde deito as memórias
Espraiado
Pelas areias ainda húmidas, esfumasse
O sentido
De cada coisa una mas separata

Sabes, prisioneiros como o peixe
Choramos a saudade em silêncio
Não passamos de seixos em formação
A quem a vida como tu, Mar
Vai limando as arestas, devagar
Pelo tempo infinito, interminável
Tudo diminui, até o sentido
Que não encontro nas palavras

José Apolónia  27/10/11

2 comentários:

  1. Sem as palavras ficam-me os sons
    atravessados no rio sem pontes
    e a outra margem urgente desaudade.

    Sem palavras súbitas de assombro,
    percorro os dias em audaciosos voos
    de gaivota emudecida também
    por negros unguentos, outros.

    Cedros gritam nos vales solitários de
    morte súbita se as palavras esmorecem
    e os túmulos ruborizam de memórias
    ressentidas por tardias.

    São coisas que só as palavras curam
    um riso, um sussurro, as tréguas da
    noite em arritmia de dedos, batida
    de vagas em severos rochedos.

    E as palavras cumprem pergaminhos,
    de rima, ritmo, diversos caminhos,
    mas nada as veste de emoção se outras
    não vierem em mester de efusão.

    És tu, sim, o rio que engrossa de ribeiros
    e insignificantes regatinhos. Sem palavras
    basta já a mais triste lua que é fibra de
    tristeza no sentir sem nome. Digo o sol
    apenas porque nos consome.

    Sem palavras não há cinzas, parapeitos,
    janelas abertas para o medo, remoinhos
    de desejo, para o fundo as dores e leves,
    leves os caracteres em que oculto teu nome
    se te penso.

    Indivisas as palavras para o que sinto e um
    surdo aceno semeia alentos, verdes margens,
    a sedução um vulto que te espera no luar do
    exclusivo entendimento. E sem palavras nem
    outros atavios - uma alegria nasce a montante
    da foz do teu rio.

    Sem as palavras, emudeço, eu Inês e tu meu Pedro,
    e não digo o quanto no suor da noite teu corpo
    no meu desejo... Sem palavras, rio e fraquejo...

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  2. As palavras nunca existiram
    na foz do Rio onde pernoito
    o que vejo e sinto são cânticos
    que me trazem aves marinhas

    e à noite dormimos paredes meias
    num silêncio quebrado pela escuridão
    na mudança das marés tudo permanece
    tudo permanece mesmo, em silêncio

    José Apolónia 2012

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