PINTAR AS PALAVRAS
O dia escoa devagar em tua imensidão
Recolhes-te
As areias da praia nuas de ti choram
Água cristalina
Lágrimas tuas encontram-te no leito
Onde repousas
A saudade exasperada, toma corpo
Nervoso
O peixe encurralado nada em círculos
Em silêncio
Permanecem as pedras sem arestas
Seixos
Arredondados pelo teu vai e vem
Continuo
Em silêncio espero pintar a saudade
De branco
Teu lençol onde deito as memórias
Espraiado
Pelas areias ainda húmidas, esfumasse
O sentido
De cada coisa una mas separata
Sabes, prisioneiros como o peixe
Choramos a saudade em silêncio
Não passamos de seixos em formação
A quem a vida como tu, Mar
Vai limando as arestas, devagar
Pelo tempo infinito, interminável
Tudo diminui, até o sentido
Que não encontro nas palavras
José Apolónia 27/10/11
Sem as palavras ficam-me os sons
ResponderEliminaratravessados no rio sem pontes
e a outra margem urgente desaudade.
Sem palavras súbitas de assombro,
percorro os dias em audaciosos voos
de gaivota emudecida também
por negros unguentos, outros.
Cedros gritam nos vales solitários de
morte súbita se as palavras esmorecem
e os túmulos ruborizam de memórias
ressentidas por tardias.
São coisas que só as palavras curam
um riso, um sussurro, as tréguas da
noite em arritmia de dedos, batida
de vagas em severos rochedos.
E as palavras cumprem pergaminhos,
de rima, ritmo, diversos caminhos,
mas nada as veste de emoção se outras
não vierem em mester de efusão.
És tu, sim, o rio que engrossa de ribeiros
e insignificantes regatinhos. Sem palavras
basta já a mais triste lua que é fibra de
tristeza no sentir sem nome. Digo o sol
apenas porque nos consome.
Sem palavras não há cinzas, parapeitos,
janelas abertas para o medo, remoinhos
de desejo, para o fundo as dores e leves,
leves os caracteres em que oculto teu nome
se te penso.
Indivisas as palavras para o que sinto e um
surdo aceno semeia alentos, verdes margens,
a sedução um vulto que te espera no luar do
exclusivo entendimento. E sem palavras nem
outros atavios - uma alegria nasce a montante
da foz do teu rio.
Sem as palavras, emudeço, eu Inês e tu meu Pedro,
e não digo o quanto no suor da noite teu corpo
no meu desejo... Sem palavras, rio e fraquejo...
As palavras nunca existiram
ResponderEliminarna foz do Rio onde pernoito
o que vejo e sinto são cânticos
que me trazem aves marinhas
e à noite dormimos paredes meias
num silêncio quebrado pela escuridão
na mudança das marés tudo permanece
tudo permanece mesmo, em silêncio
José Apolónia 2012